Um empreendedor, no sentido moderno e “marketista” do termo, talha um caminho que pensa, à partida, estar certo.
Um poeta, pelo contrário, e desde sempre, talha um caminho que pode, à partida, estar errado.
O futuro do poeta está no domínio do não-ser, daquilo que a magia da sua poesia pode “tornar ser”: o vir-a-ser aquilo que, no presente actual, ainda não o é.
O poeta é um criador de sentidos futuros e não de sentidos presentes.
A poesia, e as artes em geral, não são, pois, profissões, no sentido vulgar do termo onde se estaciona a pragmaticidade da profissionalização. As profissões, assim geralmente denominadas, realizam-se na realização de sentidos presentes – bem definidos – e cujo sucesso se baseia no esforço e na dedicação em alcançar um resultado previsto pela técnica disciplinar. O domínio do sucesso passa apenas pela concretização daquilo que apenas ainda não é.
Ser poeta é viver e escrever na talha da incerteza, na dúvida constante de um jogo de linguagens infinitas, no devir de constantes aporias, no terreno incógnito que se realiza, também, na expectativa estética de quem o recebe.
A realização de um poeta, e dos artistas em geral, manifesta-se na sua sombra. A realização de um poeta nasce quando o Belo da sua obra é sentido no corpo – e no espírito – de outrem, isto é, quando a sua obra é vivida na experiência estética do seu leitor.
O empreendedorismo na poesia tem mais de humano do que de económico.
O caminho do reconhecimento do poeta é o silêncio: um Nada com um peso infinito.
O silêncio é a causa e o destino da obra poética.
Há uma magia silenciosa – uma espécie de experiência espiritualmente umbilical – que alimenta a relação entre o escritor e o leitor.
A experiência estética é uma réplica de mediação entre o Nada e o Infinito, existente, desde logo, no início do processo de criação artística.
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Ivo Aguiar
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Sobre o Autor
Ivo Aguiar
Leitor omnívoro. Escritor independente. Filosofia, Poesia e Arte em Geral.