procuro em mim a minha coincidência
encontro o que não procuro.
Busco continuidade, tenho apenas
estilhaços de um “eu”
que quer coincidir com algo
uma ideia, uma luz, uma intuição.
No caminho tropeço na criação
estupe“facto”-me e abrando
em direcção ao silêncio,
encontro-me,
mas sem coincidência
é apenas uma consciência ainda vazia.
Já parado,
batem à porta.
O infinito, sempre o mesmo!
Ora disfarçado de totalidade
Ora de um sentido não sufragado
querendo mais e mais significado.
Deixo-o entrar.
Instala-se, acomoda-se e conforta-me
Ajuda-me incessantemente a encontrar
a linha
mas a consciência teima em não coincidir.
A criação prossegue noite dentro
A busca dá lugar a encontros
As regras foram definidas logo à entrada:
O que resultar nasce da circunstância
E circunstância será.
Perscruto o infinito através da linguagem
Mas o poema quer mais
e quando dou por mim
já o poema namora o devir
Vejo-lhe o disfarce.
Desta vez apetece-me tomar-lhe o sentido
Tento aprender, escuto e observo pela fechadura.
Por fim amorfo-me com eles
E verto estas palavras.
Não são o infinito
Não são a totalidade
Não são a poesia em si
São apenas palavras
a tentar ultrapassar a sua própria barreira.
No fim, ninguém se despede,
Cada um vai para seu lado
Baralham-se novamente as cartas
para
um dia, se jogar de novo.
—
Ivo Aguiar
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Sobre o Autor
Ivo Aguiar
Leitor omnívoro. Escritor independente. Filosofia, Poesia e Arte em Geral.