Do nada, nada deve ser dito. Vamos contrariar e começar por dizer, desde já, alguma coisa.
Do nada ao Ser há um devir mediado pelo humano, pela linguagem no humano.
Pela linguagem, o nada é resgatado do silêncio e entra no domínio do Ser.
Aqui, o nada evoca-se em Ser sob a forma de Aporias.
Sentidos sem saídas definidas, caminhos cuja saída são, desde sempre, um problema.
Uma questão por resolver. Caminhos sem saída, mas com um possível sentido.
As aporias vêm do nada como qualquer objecto de criação artística que imana de um silêncio. Como não vinculam, por definição, uma saída unívoca, abrem o humano ao infinito.
As aporias podem chegar sob a forma de pensamentos, fragmentos, leituras, imagens, pinturas, poemas, cálculos e outros modos de ser de um Ser que não se dissolve na estaticidade de uma só representação. Arte, literatura, estética, ciência, poesia, história, política, fotografia e outras linguagens humanas são apenas tentativas de simplificação de uma realidade múltipla que até aqui irá desaguar como atitude filosófica universal.
As aporias são, pois, um espaço de cultura alimentado por um olhar filosófico sobre a realidade. Uma filosofia em casa, fora da academia, de chinelos ou em pantufas, mas sempre livre e atenta aos limites constituintes da razão pura do entendimento humano.
A Filosofia é a casa de si e de todas as demais aporias.
Filosofia com aporias é uma casa sem telhado onde todos podem entrar: tocando à campainha, abrindo a maçaneta da porta entreaberta, pela janela nunca fechada, voando ou mesmo caindo de pára-quedas vindos do nada. Uma casa onde todos podem ficar e todos podem sair. Uma casa onde a chuva e o sol entram pelas mesmas frinchas. Uma casa cujos limites são definidos pelos horizontes de quem a habita e não pelas paredes que a constituem. Uma casa como caixa de ressonância de sentidos passados, presentes e futuros. Um espaço de encontro de todos, com todos e para todos.
A Filosofia, com todas as suas aporias, aparece aqui como uma arte e uma técnica de apreender a distância entre o Nada e o Infinito.
Esperando sinceramente que este espaço possa constituir uma paragem para todos aqueles que se preocupam mais com a vida do que com a técnica; um espaço fora do tempo e para todo o tempo, que requer tempo; um espaço que não se deixe mutilar pelo polegar egoísta da pressa quotidiana; um espaço para todos aqueles que querem visitar a cultura e não depender do feed algorítmico e despótico a que o universo das redes digitais submete diariamente o ser humano.
As aporias brindam, sempre, ao sentido inesgotável do real (dentro e fora do humano).
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Ivo Aguiar
Sobre o Autor
Ivo Aguiar
Leitor omnívoro. Escritor independente. Filosofia, Poesia e Arte em Geral.