Princípios e leis essenciais para não deprimir durante debates com acepções e acelerações culturais distintas.
1) Lei de Brandolini
A lei de Brandolini, também conhecida como princípio da assimetria da estupidez, é um aforisma segundo o qual, “a quantidade de energia necessária para refutar uma estupidez ou idiotice é muito superior (10x) do que a energia necessária para a propor”. Demonstrar a idiotice de uma ideia é 1º vezes mais penoso do que propor uma idiotice.
Este princípio foi formulado pelo programador informático italiano, Alberto Brandolini, em 2013 e foi inspirado num talk show político quando o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi e o jornalista Marco Travaglio se atacavam mutuamente.
Segundo esta lei, conseguimos, facilmente aferir que é muito mais fácil espalhar desinformação do que desmascará-la. As redes sociais, actualmente, funcionam como o trampolim perfeito desta lei, uma vez que amplificam de forma massiva falsas e infundamentadas notícias explorando a credulidade de um determinado público através de uma discursividade de raciocínio rápido, instintivo e emocional. Segundo a lei de Brandolini, a desinformação difundida é amplamente divulgada e aceite rapidamente, ao passo que o processo de desmascarar, vulgo fact-checking, exige um esforço considerável e não é tão apelativo para uma sociedade que predispõe apenas de poucos segundos de atenção para visualizar o que for: imagens, vídeos, textos, etc…
Através deste princípio podemos aferir que, tal como na ciência e no direito, o ónus da prova, nunca deve ser invertido, ou seja, o ónus de provar a credibilidade/verdade de uma afirmação deverá estar sempre do lado de quem afirma e não do lado de que refuta, caso contrário, tudo pode ser afirmado de forma indiscriminada sem a menor prova. Com este raciocínio chegamos ao segundo princípio, também conhecido como navalha epistemológica do ónus da prova, ou Navalha de Hitchens.
2) Navalha de Hitchens
A Navalha de Hitchens ou navalha epistemológica do ónus da prova é uma navalha filosófica, ou sejam, um axioma, normalmente utilizado no campo da lógica e da epistemologia que permitem eliminar explicações improváveis ou mesmo impossíveis.
Em 2003, o jornalista e escritor Christopher Hitchens formulou o aforisma que instituiu este princípio: “tudo aquilo que pode ser afirmado sem provas (evidências), também pode ser refutado sem provas (evidências)”. A Navalha de Hitchens é uma tradução para o inglês do provérbio latino “Quod gratis asseritur, gratis negatur”
3) Navalha de Ockham
Em homenagem a Guilherme de Ockham (1288–1347), em termos simplificados, a Navalha de Ockham pode ser descrita da seguinte forma: “em igualdade de condições, a explicação mais simples é geralmente a mais provável”. Também conhecido como princípio da economia, este princípio foi amplamente utilizado no período da Escolástica e está na base da definição dos elementos primordiais do método científico.
4) Efeito Dunning–Kruger
O efeito Dunning–Kruger corresponde à falta de correspondência entre a habilidade real e a consciência dessa habilidade e é geralmente medido comparando a auto-avaliação com o desempenho objectivo. Segundo este efeito, “aqueles que são incompetentes / estúpidos numa determinada área tendem a ignorar a sua incompetência / estupidez”. Da mesma forma, pessoas com elevados níveis de desempenho e habilidade tendem a subestimar as suas capacidades. Esta distinção é crucial para compreender a diferença objectiva entre estupidez e ignorância: o ignorante, é aquele que sabe, ontológica ou simplesmente (pela sua atitude socrática) que é ignorante e procura o saber fundamentado de uma forma contínua; o estúpido é aquele que ignora a sua própria estupidez. Ser estúpido é equivalente a estar morto: as pessoas mortas não sabem que estão mortas; as pessoas estúpidas não sabem que são estúpidas e, pelo efeito Dunning–Kruger, agem como se fossem especialistas em todo e qualquer assunto que ignoram.
Em tom de conclusão, e ainda sobre este domínio existe um diálogo sintomático que, com ironia e humor, retracta a relação discursiva entre um sábio e um estúpido:
– Como é que fazes para lidar com a estupidez dos outros?
– Digo sempre que têm razão.
– Então, mas assim, nunca ganhas nenhum argumento…
– Tens razão!
Ivo Aguiar
20960
Sobre o Autor
Ivo Aguiar
Leitor omnívoro. Escritor independente. Filosofia, Poesia e Arte em Geral.