Na alienação tradicional há sempre um lado de fora e um lado de dentro. Um ser alienado e uma estrutura alienante. São duas realidades distintas (mas complementares e dependentes) e, de certo modo, objectiváveis e separáveis à luz de um observador externo. Na alienação tradicional é possível alguém, do lado de fora, conseguir ver e explicar os efeitos nocivos da alienação para a massa alienada, alguém fora da caverna.
Na alienação contemporânea, a alienação dos indivíduos a algoritmos transcendentais, não há lado de fora. Todos estão dentro: a mulher, o parceiro, os filhos, os pais, os amigos, os conhecidos, os comentadores, os que criam “conteúdo”… etc. Os indivíduos alienados entregam a sua liberdade a um polegar e “exercem” no ecrã a sua própria liberdade durante parcos segundos e… swipe down! Alguns confrontados até dizem: “eu prefiro assim…” Os outros, os que possivelmente poderão estar fora da caverna, já não são os salvadores do alienado à realidade alienante. Os outros são agora o inoportuno, o inimigo que não está presente, uma realidade de outra galáxia, um estranho cuja linguagem acumula apenas o incómodo de uma estética (im)perfeita.
A vaidade e o narcisismo divulgados, hoje em dia, através das “redes digitais” são fundamentados num vazio ideológico. Já não é o princípio da maximização da comunicação que está em jogo, mas apenas e estritamente um entretenimento egoísta de um ser alienado por um deus que é sucesso de si mesmo.
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Ivo Aguiar
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Sobre o Autor
Ivo Aguiar
Leitor omnívoro. Escritor independente. Filosofia, Poesia e Arte em Geral.