O tema não é de agora, o tema é de sempre: as relações entre os agentes educativos, a escola e os alunos. Desde a antiguidade grega este é um assunto central para todos aqueles que se interessam pelo futuro e pelo desenvolvimento da sociedade. Sócrates (o filósofo), não o político, era acusado de corromper os jovens pela sua maiêutica e heurística e através dos escritos de Platão percebemos a importância crucial que este teve na consolidação da ideia de democracia então recentemente inaugurada pelos nossos ascendentes helenísticos.
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A Escola Pública Democrática e os seus Agentes
Se entendermos ser necessário aprender a cidadania e a democracia dentro da escola pública, o “centro de treino” e experimentação da cidadania democrática, precisamos de professores formados de acordo com os princípios democráticos. Os curricula de formação inicial de professores devem permitir levar para os contextos de formação estes conteúdos de modo a formarmos professores agentes da Democracia; promotores da Cidadania; abertos ao mundo e à diversidade; que se assumem como motores da inovação pedagógica e agentes de transformação social, que não se limitam aos saberes técnicos; que produzem conhecimentos partilhando-os ativamente com os seus alunos e cujo profissionalismo também se constrói em torno de uma consciência da diferença entre ser professor em democracia e ser professor num regime autoritário. Se os professores não pensam o seu papel na sociedade, dificilmente estarão aptos promover a mudança e a garantir que a escola pública é capaz de defender e manter os princípios, valores e práticas democráticas, sem doutrinamento, mas comprometidos com a convicção de que não há educação neutra nem apolítica, visto que está sempre imbuída de valores, sejam eles quais forem.”
Cristina Gomes da Silva, socióloga, professora e coordenadora da Escola Superior de Educação do IP Setúbal.
JL, 24 de Julho de 2024.
Numa altura em que começam a surgir ameaças ao sistema político democrático liberal (no mundo ocidental) sobre o qual construímos a base de paz nos últimos 80 anos na Europa, a escola tem, hoje, um papel mais relevante do que nunca da progressiva democratização liberal das sociedades. A relação pedagógica entre seres humanos é talvez a chave e o trunfo mais imediato para a construção de uma sociedade mais capacitada – democrática e liberal – no futuro onde o humano é visto com um ser integral, sujeito livre de um pensamento crítico e criativo e não alienado por nenhum tipo de estrutura extremista (e radical) produtora de visões monocromáticas, tecnicistas, autoritárias e não-liberais da realidade.
É no processo analógico de transferência pedagógica que reside a possibilidade e a esperança de que um aluno de hoje seja um cidadão no futuro que comunga de um conjunto de valores democráticos e liberais! Sem a escola a invasão social dos ecrãs na vida das pessoas poderá colocar em risco aquilo que consideramos ser o mais profundo de nós: “ser humano”. Sem uma escola bem preparada, a liberdade de hoje poderá ser apenas uma noção semântica num qualquer dicionário numa prateleira de amanhã.
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Ivo Aguiar
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Sobre o Autor
Ivo Aguiar
Leitor omnívoro. Escritor independente. Filosofia, Poesia e Arte em Geral.