Avery Sinder
run_it_back.exeˇ
Avery Singer (n. 1987) nasceu e cresceu em Nova Iorque, no seio de uma comunidade criativa que lhe permitiu experimentar a fotografia, filme e desenho. Nunca considerou trabalhar com a pintura. Singer trabalha, actualmente, a linguagem binária da informática e materiais industriais, para apagar o traço da mão de artista e, ao mesmo tempo, criar ligações com a tradição da pintura e o legado do modernismo.
© Filipe Braga, Fotografia
A exposição Avery Singer actualmente em Serralves, desde o dia 13 de Fevereiro até ao dia 07 de Setembro de 2025 é a sua primeira exposição individual, em Portugal. Concebida especificamente para este contexto, a exposição questiona os paradoxos da era digital e as tensões estruturais que definem a sociedade contemporânea, bem como as intersecções entre arte, tecnologia e arquitectura. É uma oportunidade única para quem, no universo da Arte Contemporânea deseja explorar conceitos e paradoxos em torno de conceitos como realidade e ficção, identidade e anonimato, humanidade e tecnologia, economia e especulação digital e ainda outros menos paradoxais, mas intrinsecamente ligados ao universo linguístico, de hoje: inteligência artificial, IoT (Internet das Coisas), blockchain, criptomoedas, NFTs, redes, etc. De que forma estes conceitos poderão constituir o mote e a base de reflexão para a criação artística e de que forma através deles conseguimos questionar o nosso lugar no mundo enquanto seres humanos? É esse o convite e a provocação que esta artista de NY nos propõe.
“A exposição run_it_back.exeˇ, da artista nova-iorquina Avery Singer, assinala a sua primeira individual em Portugal e marca o início da programação de 2025 do museu. Concebida especificamente para este contexto, a exposição questiona os paradoxos da era digital e as tensões estruturais que definem a sociedade contemporânea, bem como as interseções entre arte, tecnologia e arquitetura.
O título run_it_back.exeˇ remete para o universo digital e a ideia de repetição obsessiva — deslizar por feeds, monitorizar mercados ou reiniciar processos numa busca ilusória por controlo e resultados. Nas suas pinturas, Avery Singer reflete sobre as promessas das economias digitais emergentes, como as criptomoedas, expondo as dinâmicas de volatilidade, alienação e a fragmentação das identidades que frequentemente lhes estão associadas. Figuras anónimas e desprovidas de emoção habitam espaços que evocam a frieza de repartições públicas e instituições financeiras, ambientes impessoais onde os indivíduos se tornam peças descartáveis de um sistema indiferente.
A exposição expande-se até ao lobby do museu, dialogando com a arquitetura de Álvaro Siza num gesto que transforma Serralves num território híbrido, onde arte e espaço desafiam as fronteiras entre o real e o virtual. Este cruzamento de esferas sublinha a fragilidade das estruturas — físicas, sociais e tecnológicas — que sustentam a nossa realidade, enquanto desafia os visitantes a refletir sobre as contradições do mundo contemporâneo.
Avery Singer, uma das pintoras mais extraordinárias da atualidade, reconfigura a nossa perceção do presente com um olhar crítico e atento às fissuras de um tempo em constante aceleração. run_it_back.exeˇ é mais do que uma exposição; é um apelo urgente à reflexão sobre as transformações sociais que que não só redefinem, quase continuamente, o presente, como também abrem caminho para o futuro.”
A curadoria desta exposição no Museu de Arte Contemporânea da Fundação de Serralves é da responsabilidade de Inês Grosso, Curadora Chefe do Museu de Serralves e nada melhor do que seguir algumas das suas indicações neste percurso que tem como único objectivo estimular o leitor na visita da exposição.
Singer utiliza a tecnologia de uma forma ímpar na preparação das suas obras, mas não se fica por aí. Podemos dizer que o produto criado é fruto da evolução tecnológica, mas a sua existência enquanto arte tem como finalidade principal questionar o mundo onde vivemos e, em especial, as relações que o ser humano estabelece com a tecnologia que o rodeia e alimenta diariamente. Singer reconfigura o tempo na sua medida. Singer não expõe apenas as suas obras, ela recria o espaço arquitectónico onde a sua exposição é apresentada. Podemos dizer que há um espaço e um tempo próprios, dentro do Museu de Serralves. Tem como base toda a parafernália de insígnias que a tecnologia pode oferecer ao ser humano, mas apresenta-nos um olhar crítico e uma sensibilidade invulgar chamando-nos a atenção para questões prementes que precisam de ser discutidas e para as fissuras de um mundo em permanente transformação. “O seu trabalho não oferece consolo, mas um convite à reflexão. E talvez seja isso que torna a sua obra tão pertinente, a sua capacidade de nos fazer parar, questionar e perceber que este tempo exige atenção.” Alienado ou sob vigilância o espectador é convidado a observar olhares e retinas onde se vê a si próprio, numa espécie de efeito de espelhos infinitos. Olhando a obra, o espectador observa-se a olhar-se a si mesmo na obra. E não se vê apenas a si, ele pode observar também as suas ânsias, os seus medos, os seus vícios, o seu modo de vida. Observando-se em terceira pessoa, o espectador tem aqui uma janela de oportunidade para se questionar a si mesmo enquanto ser humano: qual o seu papel e qual a sua importância no mundo contemporâneo?
Singer apresenta-nos um universo infinito de possibilidades de leitura e por isso abre-nos a porta da vida a mais uma conjunto de aporias que estimulam e possibilitam a nossa liberdade.
Link para a página de Serralves:
https://www.serralves.pt/ciclo-serralves/1302-run_it_backexe/
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Ivo Aguiar
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Sobre o Autor
Ivo Aguiar
Leitor omnívoro. Escritor independente. Filosofia, Poesia e Arte em Geral.